A oficial de justiça Sandra
Sesmanioto, 48 anos de idade, dos quais, vinte dedicados ao Judiciário do
Estado de São Paulo, saiu em diligência há pouco mais de um mês para efetuar um
mandado de busca e apreensão de uma motocicleta, na Zona Sul da cidade de São
Paulo. À disposição dos oficiais sempre está uma patrulha da Polícia Militar
para dar apoio em situações de “ameaça” prevista, como reintegração de posse ou
atuação em áreas de “risco”, como favelas e pontos conhecidos em que o crime
predomina. Como o caso não envolvia nenhuma dessas hipóteses, Sandra dispensou cobertura
policial.
Além da PM, o trabalho dos
oficiais recebe o “apoio” de um agente que atua a mando de bancos – credores –
que desejam que os bens em penhora sejam encontrados para pagamento da dívida.
Estes agentes, vulgarmente chamados de “localizadores”, costumam chegar ao
local bem antes dos oficiais, indicando a eles, por telefone, o paradeiro do
objeto da busca. Porém, dessa vez, Sandra encontrou o endereço primeiro nas
imediações do Jardim São Luiz, bairro que registra um dos índices de
criminalidade mais altos da cidade e é notoriamente afamado por ter o maior
cemitério de indigentes da América Latina.
Localizou a casa do citado na
petição, parou o carro, tocou a campainha. “Senhor, eu vim cumprir um mandado
de busca e apreensão da moto que está em seu nome”, comunicou sua intenção. O
homem não manifestou qualquer resistência ou sentimento de estorvo. Concordou
em entregar a moto, mas pediu que a oficial aguardasse enquanto ele pegava as
chaves do portão.
A oficial, que em anos de
profissão já viu gente se estrebuchar de tanto choro por causa de carros e
bens, certamente deve ter estranhado a placidez e gentileza do homem, mas
acatou e voltou para seu automóvel. Viu ainda o agente chegar, parando
imediatamente atrás dela. Como o conhecia, acenou e disse que já não precisava
mais de sua ajuda, a diligência estava quase terminada.
Dentro de seu veículo, a
oficial ajeita os papéis que o intimado deve assinar. Com o canto
esquerdo do olho percebe que o homem se aproxima de sua janela. Ele ergue
o 38 na altura do rosto de Sandra e dispara uma, duas, três, quatro – a oficial
cai em cima do banco direito – cinco vezes. O homem bate a arma em sua perna
para abrir o tambor quente, por ter intimidade com o 38, sabia que tocá-lo
seria burrice, lhe queimaria as mãos. As cápsulas vazias caem e tilintam no
asfalto. Ele apalpa os bolsos a procura de mais balas, encontra. Enfia três no
revólver e descarrega sobre a oficial.
O localizador que assistiu a
execução acionou uma viatura próxima à rua. O homem foi preso em flagrante e
enquadrado por porte ilegal de arma e homicídio duplamente qualificado – por
motivo torpe e sem chance de defesa – e, segundo me informaram fontes que
assistiram ao seu depoimento, ele “não se arrepende”. Tampouco dá pistas de
algo que se aproxime de uma justificativa plausível – se é que existe – para
cravar oito balas em Sandra.
O caso de Sandra se torna mais
comum a cada dia. Na semana passada, dois oficiais que atuavam em conjunto em uma
ação na cidade de Itapecerica da Serra foram recebidos a tiros de “12”. Para os
que não conhecem calibre de armas, digo que uma “12” é utilizada para abater
animais de grande porte, como bois, búfalos e, em situações de covardia
desmedida, oficiais de justiça.
Ainda pelos próximos dias,
trago detalhes do episódio da “12” e tantos outros que assombram funcionários
do Judiciário no estado de São Paulo.
"E não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do nosso
entendimento” (Romanos 12:2).
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Gisleia Menezes